
PÓVOA DE VARZIM

Parque da Cidade Póvoa de Varzim,
inserido nos Dias no Parque

PARA CERVEIRA

NA PRAIA
PÓVOA DE VARZIM
Blogue
Não há uma de nós que não tenha memória de ver as nossas mães a fazer malha ou crochet na praia. Se não era a nossa mãe, era a senhora da barraca ao lado. Havia sempre alguém que não dava por perdido o tempo ao sol. Numa barraca feita extensão da casa, sempre de olho atento na canalha, a camisola do próximo inverno crescia, o novo naperom já preparava a casa que se queria aprimorada no Natal. A praia como lugar perfeito para os lavores.
2024 não é ano do crochet sair à rua em Cerveira, mas isso não importou. No último sábado de julho, cumprimos o prometido e fomos de comboio para Vila Nova de Cerveira. Um dia com muitas horas de viagem, um tempo mais que perfeito para tricotar e conversar.
Desde 2021, ano da primeira edição do Lavorada, que o grande salgueiro do jardim da Biblioteca acolhe uma instalação têxtil. Nesse ano, ainda sem um tema, as rosetas coloridas marcaram o primeiro ritual deste festival.
Nesta edição, a decoração do salgueiro ficou a cargo da nossa artista Cláudia Pinheiro. Um trabalho criativo e esteticamente bem conseguido que fez do salgueiro arte e mensagem.
A organização do Festival Lavorada encontrou na realização do concurso uma forma de unir os vários grupos de tricot e crochet espalhados pelo país, num só evento, num só lugar. É esse o maior objetivo deste festival, a união, a partilha e o convívio entre todos, que como nós, encontram nos lavores e na roda que nos une semanalmente um motivo de encontro descontraído e bem estar. Foi, também, uma forma criativa de decorar a rua que nos leva ao jardim da biblioteca e dar visibilidade a cada grupo.
A 17 de janeiro deste ano, constituímos a nossa associação, Lavorada – Associação de Lavores. Já aqui falamos sobre isso e dos caminhos que convergiram nesse dia. Mas aproveitamos o evento maior da associação para fazermos publica e oficialmente a apresentação deste nosso projeto juntos das instituições poveiras, juntos dos poveiros. Juntamos mais uma noite à nossa programação e falamos de nós, dos lavores e das fotografias que compõem a exposição colchas da Devoção, também apresentada nesta noite.
Foi uma manhã marcada de estórias e histórias, contadas por mulheres que, de forma determinada, não só preservam a sua cultura, como se interessam pela cultura de quem lá chega.
Uma manhã de boas conversas e boas presenças.
Grupos de mulheres, de todas as idades, iam-se juntando, conversando, querendo genuinamente saber de umas das outras e, claro, tricotando ou crochetando.
Este ano, queremos alargar a decoração até aos grande plátanos da fachada da biblioteca. Árvores majestosas, centenárias e que ficarão lindas com as nossas decorações.
Bem, aqui que começa o desafio. Nossas, não. Queremos que estes plátanos recebam as vossas decorações. Queremos desafiar os grupos de tricot, crochet por este país fora a escolherem um plátano e a decorá-lo. Um desafio que é um concurso.
Termina o mês, mas não termina Abril! Comemorá-lo sempre, lembrá-lo sempre foi a razão pela qual a Lavorada quis associar-se aos incontáveis eventos que marcaram os 50 anos de uma revolução que queremos viva, sempre pacífica, igualitária e fraterna.
Cravos e canções, símbolos maiores desta revolução feita à imagem dos portugueses, poetas de alma. Disse Rui Tavares, “a mais bela revolução do século XX”.
A presença de uma roda de lavores nas comemorações da Revolução dos Cravos não é um paradoxo, é a demonstração que o caminho está a ser feito e chegamos ao ponto em que já vamos conseguindo revisitar memórias mais profundas e difíceis. Mas é, acima de tudo, e com urgência, o pretexto para relembrar, precisamente, que esses tempos não se podem repetir.
Celebrar os 50 anos do 25 de Abril na Lavorada é celebrar a conquista do lugar da mulher e das suas livres escolhas. Cada cravo em crochet representa a entrega da mulher à sua arte sem propósito prático nenhum, apenas a arte pela arte. Ter prazer e criar.
Em três anos muitas pessoas se foram juntando nesta roda de lavores que fala de muita coisa e nos leva por muitos caminhos. Depressa um projeto pessoal se tornou coletivo, ficando cada vez mais rico, cada vez com mais perspectivas de vir a concretizar objetivos que até então eram ideias da matéria do sonho. A vontade de levar este espaço a cada vez mais pessoas, chamar as gerações mais novas, estudar, divulgar, ensinar, criar não era já só uma vontade minha. E quando já não somos só nós, quando vemos que o compromisso já não é só nosso, temos de avançar. Dar para não perder.
O I Retiro Lavorada foi um encontro de gente que sabe que as mãos fazem e unem e que nesta construção está a possibilidade de dias mais felizes, leves, simples.
Não vos vamos contar o que lá se passou porque o que se passa no retiro, fica no retiro. Mas podemos dizer que foi especial e que as agulhas são feitas de material bom condutor de amizade e empatia.
O instante em que soubemos que a Paula sabia tocar acordeão foi o instante em que ficou decidido que cantar-se-ia As Janeiras na Lavorada Mensal de janeiro, óbvio.
Foi mesmo uma alegria. Trajamos as nossas Camisola Poveiras e afinámos vozes. A melhor maneira de se começar um novo ano.
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