Éramos nove na carrinha que a Junta de Freguesia da Póvoa de Varzim nos cedeu para irmos levar a Lavorada a terras da Benedita. Foi no sábado. Nesse dia, era lá o encontro da Malharia e lá fomos.

Éramos nove, acordamos cedo e fomos ver mais. Queríamos aprender mais sobre estas terras do oeste. Fomos ver o Património e a Cultura das gentes locais. Fomos a Minde.

Minde localiza-se já no extremo norte do distrito de Santarém. O seu polje, com solos pobres, rochosos e com pouca água à superfície fizeram dos mindenses criadores de cabras e ovelhas, aproveitando as suas lãs para a tecelagem.

Minde a terra das mantas de cores vivas, muitas delas escondidas nas arcas das nossas mães e avós.

Já existiam referências a estas mantas no reinado de D. João V e, na primeira metade do século XIX, houve a obrigatoriedade dos mindeiros fornecerem as suas mantas aos regimentos militares. No final deste século, era a principal atividade económica desta localidade.

Até ao início do século XX não havia casa que não tivesse um tear que, no início, era manobrado pelo chefe da casa (o homem), ficando para a mulher a tarefa de urdir, fiar cardar. Quando o século XX chegou, a tarefa ficou para as mulheres, sendo que os homens corriam o país para as vender em mercados e feiras.

Hoje, já nada resta desta produção em Minde. No Centro de Artes e Ofícios Roque Gameiro preserva-se a tradição nas mãos de duas mulheres, no Atelier de Tecelagem. As únicas.

Foi a Mafalda que nos atendeu e explicou todo do processo desta tradição. Dos outrora 200 teares, restam 3, cedidos pela antiga fábrica. Aqui, a Mafalda tece, como se tudo fosse fácil. A Mafalda é feliz naquele tear, apesar do trabalho duro.

Vê-la ali, feliz, a tecer, a ensinar como se faz, com o som da madeira a bater na lã e dos pedais que se alternam, foi um momento de aprendizagem único.

Fomos embora, trazendo a Mafalda no coração (que compramos, tecido à maneira de Minde) e embarcamos para Mira D’Aire. Fomos ao MIAT, ao Museu Industrial e Artesanal do Têxtil.

O MIAT é um museu que representa a história da indústria têxtil de Mira D’Aire. Um museu localizado numa antiga fábrica de tapetes onde a presença de alguns objetos remete-nos para memórias das casas dos nossos avós, dos artesãos e das fábricas de outros tempos.

Aqui vimos o engenho com que o homem foi adaptando as técnicas e as máquinas, para que o trabalho não fosse tão duro.

A esta fábricas, chegavam mulheres de todo o lado, às centenas. Lá dormitavam e podiam trazer os filhos, que brincavam no infantário da fábrica, enquanto as mães laboravam.

Do criador de ovelhas ao alfaiate, a lã e o têxtil eram o sustento de toda a comunidade. Hoje, só resta a memória teimosamente preservada por este museu e estampado na simpatia, mais uma vez, de duas mulheres que nos receberam.

Foi uma manhã marcada de estórias e histórias, contadas por mulheres que, de forma determinada, não só preservam a sua cultura, como se interessam pela cultura de quem lá chega.

Uma manhã de boas conversas e boas presenças. Só nos faltava ir à Malharia.

Chegamos à Malharia eram quinze da tarde e lá estava a Patrícia da retrosaria Talica. A mulher dos afetos, do “amor gera amor”, recebeu-nos com um abraço coletivo, e foi assim pela tarde.

Grupos de mulheres, de todas as idades, iam-se juntando, conversando, querendo genuinamente saber de umas das outras e, claro, tricotando ou crochetando. A Liliana, da Rosários4, a Ângela Quaresma, a Marta da Pêlo d’Arame e todas as outras lavoradeiras cuja presença e generosidade nos aqueceram naquela terra ventosa do oeste.

Viemos embora com o coração quentinho e a ansiar pela vinda de todas estas pessoas ao nosso festival.

Que dia lindo!

Teresa Teixeira

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13 de Maio, 2024

Não conheço a lavorada pessoalmente (embora tenhamos tido alguns contactos), mas gosto genuinamente de tudo o que vejo e leio. Parabéns pela vossa comunidade tão bonita!

13 de Maio, 2024

Obrigada, Joana, por tão bonitas palavras! São encorajadoras. Será muito bem vinda aos nossos encontros, ao nosso festival! Um abraço lavorado.

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