A 17 de janeiro deste ano, constituímos a nossa associação, Lavorada – Associação de Lavores. Já aqui falamos sobre isso e dos caminhos que convergiram nesse dia. Mas aproveitamos o evento maior da associação para fazermos publica e oficialmente a apresentação deste nosso projeto juntos das instituições poveiras, juntos dos poveiros. Juntamos mais uma noite à nossa programação e falamos de nós, dos lavores e das fotografias que compõem a exposição colchas da Devoção, também apresentada nesta noite.
Foi uma manhã marcada de estórias e histórias, contadas por mulheres que, de forma determinada, não só preservam a sua cultura, como se interessam pela cultura de quem lá chega.
Uma manhã de boas conversas e boas presenças.
Grupos de mulheres, de todas as idades, iam-se juntando, conversando, querendo genuinamente saber de umas das outras e, claro, tricotando ou crochetando.
Este ano, queremos alargar a decoração até aos grande plátanos da fachada da biblioteca. Árvores majestosas, centenárias e que ficarão lindas com as nossas decorações.
Bem, aqui que começa o desafio. Nossas, não. Queremos que estes plátanos recebam as vossas decorações. Queremos desafiar os grupos de tricot, crochet por este país fora a escolherem um plátano e a decorá-lo. Um desafio que é um concurso.
Termina o mês, mas não termina Abril! Comemorá-lo sempre, lembrá-lo sempre foi a razão pela qual a Lavorada quis associar-se aos incontáveis eventos que marcaram os 50 anos de uma revolução que queremos viva, sempre pacífica, igualitária e fraterna.
Cravos e canções, símbolos maiores desta revolução feita à imagem dos portugueses, poetas de alma. Disse Rui Tavares, “a mais bela revolução do século XX”.
A presença de uma roda de lavores nas comemorações da Revolução dos Cravos não é um paradoxo, é a demonstração que o caminho está a ser feito e chegamos ao ponto em que já vamos conseguindo revisitar memórias mais profundas e difíceis. Mas é, acima de tudo, e com urgência, o pretexto para relembrar, precisamente, que esses tempos não se podem repetir.
Celebrar os 50 anos do 25 de Abril na Lavorada é celebrar a conquista do lugar da mulher e das suas livres escolhas. Cada cravo em crochet representa a entrega da mulher à sua arte sem propósito prático nenhum, apenas a arte pela arte. Ter prazer e criar.
Em três anos muitas pessoas se foram juntando nesta roda de lavores que fala de muita coisa e nos leva por muitos caminhos. Depressa um projeto pessoal se tornou coletivo, ficando cada vez mais rico, cada vez com mais perspectivas de vir a concretizar objetivos que até então eram ideias da matéria do sonho. A vontade de levar este espaço a cada vez mais pessoas, chamar as gerações mais novas, estudar, divulgar, ensinar, criar não era já só uma vontade minha. E quando já não somos só nós, quando vemos que o compromisso já não é só nosso, temos de avançar. Dar para não perder.
O I Retiro Lavorada foi um encontro de gente que sabe que as mãos fazem e unem e que nesta construção está a possibilidade de dias mais felizes, leves, simples.
Não vos vamos contar o que lá se passou porque o que se passa no retiro, fica no retiro. Mas podemos dizer que foi especial e que as agulhas são feitas de material bom condutor de amizade e empatia.
O instante em que soubemos que a Paula sabia tocar acordeão foi o instante em que ficou decidido que cantar-se-ia As Janeiras na Lavorada Mensal de janeiro, óbvio.
Foi mesmo uma alegria. Trajamos as nossas Camisola Poveiras e afinámos vozes. A melhor maneira de se começar um novo ano.
Chegou ao fim, com muita tristeza nossa, mais uma série de workshops A Agulha Vai Torta.
Vale-nos a alma cheia com que saímos da Tua Vinharia, a casa que acolheu os nossos primeiros workshops, aqueles que tanta gente trouxe até nós. O grande desafio que foi fazer o xaile Lavorada, soube triar as bravas que até hoje continuam connosco e fizeram desta caminhada um trabalho conjunto.
Aquando a nossa visita a Monção, ficou claro que aquelas mulheres amavam o que faziam, A paixão era transmitida em cada palavra e na vontade de partilhar o seu conhecimento. Mal sabíamos que esta vontade se traduziria numa visita à Póvoa para promover uma masterclass junto das nossas tricotadeiras.