About Lara Mafalda

Há mais de uma década que Lara Mafalda anda de volta dos lavores. Considera-os no patamar das primeiras artes, as da técnica, do saber fazer. Aquelas que se aprendem em casa e são princípio de caminhos artísticos. Constatação corroborada pelos estudos feitos aquando a sua licenciatura em Estudos Artísticos, altura em que as Artes Decorativas lhe ocuparam um lugar especial no coração. É criadora da marca My Beloved Craft e de Lavorada - O Festival dos Lavores.
A presença de uma roda de lavores nas comemorações da Revolução dos Cravos não é um paradoxo, é a demonstração que o caminho está a ser feito e chegamos ao ponto em que já vamos conseguindo revisitar memórias mais profundas e difíceis. Mas é, acima de tudo, e com urgência, o pretexto para relembrar, precisamente, que esses tempos não se podem repetir. Celebrar os 50 anos do 25 de Abril na Lavorada é celebrar a conquista do lugar da mulher e das suas livres escolhas. Cada cravo em crochet representa a entrega da mulher à sua arte sem propósito prático nenhum, apenas a arte pela arte. Ter prazer e criar.
Em três anos muitas pessoas se foram juntando nesta roda de lavores que fala de muita coisa e nos leva por muitos caminhos. Depressa um projeto pessoal se tornou coletivo, ficando cada vez mais rico, cada vez com mais perspectivas de vir a concretizar objetivos que até então eram ideias da matéria do sonho. A vontade de levar este espaço a cada vez mais pessoas, chamar as gerações mais novas, estudar, divulgar, ensinar, criar não era já só uma vontade minha. E quando já não somos só nós, quando vemos que o compromisso já não é só nosso, temos de avançar. Dar para não perder.
O I Retiro Lavorada foi um encontro de gente que sabe que as mãos fazem e unem e que nesta construção está a possibilidade de dias mais felizes, leves, simples. Não vos vamos contar o que lá se passou porque o que se passa no retiro, fica no retiro. Mas podemos dizer que foi especial e que as agulhas são feitas de material bom condutor de amizade e empatia.
O instante em que soubemos que a Paula sabia tocar acordeão foi o instante em que ficou decidido que cantar-se-ia As Janeiras na Lavorada Mensal de janeiro, óbvio. Foi mesmo uma alegria. Trajamos as nossas Camisola Poveiras e afinámos vozes. A melhor maneira de se começar um novo ano.
Chegou ao fim, com muita tristeza nossa, mais uma série de workshops A Agulha Vai Torta. Vale-nos a alma cheia com que saímos da Tua Vinharia, a casa que acolheu os nossos primeiros workshops, aqueles que tanta gente trouxe até nós. O grande desafio que foi fazer o xaile Lavorada, soube triar as bravas que até hoje continuam connosco e fizeram desta caminhada um trabalho conjunto.
Aquando a nossa visita a Monção, ficou claro que aquelas mulheres amavam o que faziam, A paixão era transmitida em cada palavra e na vontade de partilhar o seu conhecimento. Mal sabíamos que esta vontade se traduziria numa visita à Póvoa para promover uma masterclass junto das nossas tricotadeiras.
Por mais um ano, juntamo-nos ao Jaime e à Calita da Tua Vinharia para uma série de workshops de tricot com o embalo do melhor vinho português. Desta vez o tricot é o de 5 agulhas, é para iniciantes desta técnica e é a pensar no Natal, que está já ali ao virar da esquina. Vamos juntar as maravilhas dos presentes feitos à mão à tradição mais tradicional dos presentes de natal: Meias! Meias feitas à mão! Lindo.
Quando ouvi a Isabel e a Tânia percebi que, afinal, tricotavam histórias, usavam a bússola do coração e construíam, a cada passo, um projeto novo. Estas mulheres arrastam e inspiram quem as ouve a fazer o mesmo. Saímos dali com vontade de tricotar um novo projeto de vida de, a cada volta e carreira tricotadas, mudar de novelo, de padrão, de ideia, voltar atrás e recomeçar e olhar para o nosso percurso com a sensação de dever cumprido.
Não sabemos se os lavores são pretexto para passear ou se o passeio é pretexto para os lavores. A verdade é que começamos a época como acabamos a transata – com um passeio! Depois de um julho em grande, com bastantes encontros, passeios, conversas e troca de experiências e saberes, veio o descanso necessário de um agosto em que apenas trocamos palavras pelo whatsapp, sem nunca esquecer que desligar é essencial. As saudades foram criadas e para as matar só um passeio poderia ser a solução! Juntou-se o útil ao agradável e rumamos às Caldas da Rainha para conhecer o Festival À Procura do Novelo. Dia a dia estes encontros ganham mais significado, criam laços e propósitos. São cadinhos onde se misturam ideias, sonhos e futuro.
Todas queríamos ir a Cerveira ver os crochets com que a vila se veste. Queríamos ir toda juntas, mas não queríamos o compromisso de alugar um autocarro. Comboio! Apanhar um comboio direto do Porto a esta linda vila minhota era a solução óbvia e tão propícia ao convívio de tricotadeiras e crocheteiras. Sem outro programa que não este: chegar, ver, fazer e desfrutar do tanto que a linda paisagem e o encontro entre todas tinha para dar