Hoje fomos a Monção. Fomos 7 e a Millie.
Fomos ao III Encontro das Tricotadeiras de Monção, sob o tema" os 5 sentidos da saúde mental".
E que dia bonito! Pessoas de coração maior do que o dia, que se abraçavam devagar, que riram juntas, que apuraram todos os sentidos, com a ajuda da DinamicaMente, esta brilhante Associação, que ajuda quem lhes chega, que cuida de quem cuida - "precisas de ajuda? Nós estamos aqui"- que bonito!
A nossa Lavorada Mensal começou em setembro de 2023, faz, portanto, um ano que nos reunimos mensalmente.
A data ficou marcada com o bom tempo encomendado ao S. Pedro e que nos permitiu usufruir, mais uma vez, do melhor lugar para os nossos encontros: o jardim da Biblioteca Municipal.
Não há uma de nós que não tenha memória de ver as nossas mães a fazer malha ou crochet na praia. Se não era a nossa mãe, era a senhora da barraca ao lado. Havia sempre alguém que não dava por perdido o tempo ao sol. Numa barraca feita extensão da casa, sempre de olho atento na canalha, a camisola do próximo inverno crescia, o novo naperom já preparava a casa que se queria aprimorada no Natal. A praia como lugar perfeito para os lavores.
2024 não é ano do crochet sair à rua em Cerveira, mas isso não importou. No último sábado de julho, cumprimos o prometido e fomos de comboio para Vila Nova de Cerveira. Um dia com muitas horas de viagem, um tempo mais que perfeito para tricotar e conversar.
A organização do Festival Lavorada encontrou na realização do concurso uma forma de unir os vários grupos de tricot e crochet espalhados pelo país, num só evento, num só lugar. É esse o maior objetivo deste festival, a união, a partilha e o convívio entre todos, que como nós, encontram nos lavores e na roda que nos une semanalmente um motivo de encontro descontraído e bem estar. Foi, também, uma forma criativa de decorar a rua que nos leva ao jardim da biblioteca e dar visibilidade a cada grupo.
A 17 de janeiro deste ano, constituímos a nossa associação, Lavorada – Associação de Lavores. Já aqui falamos sobre isso e dos caminhos que convergiram nesse dia. Mas aproveitamos o evento maior da associação para fazermos publica e oficialmente a apresentação deste nosso projeto juntos das instituições poveiras, juntos dos poveiros. Juntamos mais uma noite à nossa programação e falamos de nós, dos lavores e das fotografias que compõem a exposição colchas da Devoção, também apresentada nesta noite.
Foi uma manhã marcada de estórias e histórias, contadas por mulheres que, de forma determinada, não só preservam a sua cultura, como se interessam pela cultura de quem lá chega.
Uma manhã de boas conversas e boas presenças.
Grupos de mulheres, de todas as idades, iam-se juntando, conversando, querendo genuinamente saber de umas das outras e, claro, tricotando ou crochetando.
Este ano, queremos alargar a decoração até aos grande plátanos da fachada da biblioteca. Árvores majestosas, centenárias e que ficarão lindas com as nossas decorações.
Bem, aqui que começa o desafio. Nossas, não. Queremos que estes plátanos recebam as vossas decorações. Queremos desafiar os grupos de tricot, crochet por este país fora a escolherem um plátano e a decorá-lo. Um desafio que é um concurso.
Termina o mês, mas não termina Abril! Comemorá-lo sempre, lembrá-lo sempre foi a razão pela qual a Lavorada quis associar-se aos incontáveis eventos que marcaram os 50 anos de uma revolução que queremos viva, sempre pacífica, igualitária e fraterna.
Cravos e canções, símbolos maiores desta revolução feita à imagem dos portugueses, poetas de alma. Disse Rui Tavares, “a mais bela revolução do século XX”.
A presença de uma roda de lavores nas comemorações da Revolução dos Cravos não é um paradoxo, é a demonstração que o caminho está a ser feito e chegamos ao ponto em que já vamos conseguindo revisitar memórias mais profundas e difíceis. Mas é, acima de tudo, e com urgência, o pretexto para relembrar, precisamente, que esses tempos não se podem repetir.
Celebrar os 50 anos do 25 de Abril na Lavorada é celebrar a conquista do lugar da mulher e das suas livres escolhas. Cada cravo em crochet representa a entrega da mulher à sua arte sem propósito prático nenhum, apenas a arte pela arte. Ter prazer e criar.