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A 17 de janeiro deste ano, constituímos a nossa associação, Lavorada – Associação de Lavores. Já aqui falamos sobre isso e dos caminhos que convergiram nesse dia. Mas aproveitamos o evento maior da associação para fazermos pública e oficialmente a apresentação deste nosso projeto juntos das instituições poveiras, juntos dos poveiros. Juntamos mais uma noite à nossa programação e falamos de nós, dos lavores e das fotografias que compõem a exposição Colchas da Devoção, também apresentada nesta noite.

Num registo informal, entre amigos, Ricardo Silva e Lucinda Amorim deixaram-nos palavras de afeto e incentivo, elogiando o trabalho até aqui feito e apresentando total disponibilidade para apoio futuro.

 

Discurso do Sr. Presidente da União de Freguesias de Beiriz, Argivai e Póvoa de Varzim no dia da apresentação pública da Lavorada – Associação dos Lavores

14 de junho de 2024, na Biblioteca Municipal da Rocha Peixoto, Póvoa de Varzim

 

Exma. Sra. Vereadora Dra. Lucinda Amorim

Exma. Sra. Diretora da Biblioteca Municipal Rocha Peixoto Dra. Lurdes Adriano

Caros Representantes de associações do Concelho

Poveiros e Poveiras

Cumprimento especialmente todos os associados da Lavorada e representantes dos corpos sociais da Associação

Antes de mais agradeço à Presidente Lara Mafalda, a honra que me deu, em apresentar publicamente a Associação legalmente constituída, de nome “Lavorada”, sediada aqui na Póvoa de Varzim.

Declaro desde já a minha total falta de isenção em tudo o que vou dizer.

Sou parte interessada no sucesso do projecto, porque acredito que é essencial para a Póvoa de Varzim.

Declaro o meu interesse pessoal nesta Associação , presidida pela Lara Mafalda, que é minha vizinha e amiga.

Declaro também de forma frontal que já trabalhamos juntos, com o Mário Linhares no projecto de certificação da Camisola Poveira.

E permitam-me ainda declarar que me prometeu fazer este ano receita esquematizada para tricotar uma Camisola Poveira.

Por isso, deixo já bem claro a quantidade de conflitos de interesses nesta apresentação.

O concelho da Póvoa de Varzim é morada para 94 associações. A maioria ligada ao desporto, com especial relevância para o futebol. Depois vêm as culturais e recreativas, seguidas das de cariz social e depois muitas outras de pendor religioso, ambiental, etc.

Ou seja, parecem muitas mas faltava a Lavorada.

Faltava a Lavorada, porque a Lavorada é uma associação diferente.

É diferente porque não nasce primeiro a associação e depois é que se põe mãos ao trabalho. Primeiro nasceu o trabalho, o primeiro Festival Lavorada é em 2021, e só agora, já na quarta edição do Festival é que nasce a Associação. Ou seja, testou-se procurou-se gente interessada, mostrou-se ao que se vinha e só depois se formalizou o interesse comum em associação.

A Associação é também diferente porque não vive num mundo fechado.

A Lavorada procura abrir a roda dos lavores a todos os que quiserem participar e por isso desdobra-se em múltiplos eventos.

E como não tem sede. A sede é pela Póvoa toda. Ora a “Agulha vai Torta” lá para a garrafeira Vinharia, ou então dá “bicho na agulha” na padaria “O Bicho”, ou perde-se mesmo o fio à conversa na Biblioteca Municipal. Como se trata de gente decidida, por vezes não lhes chega aqui o ar do mar e avançam terra adentro até Minde e da Póvoa até a Benedita, apanham o comboio para Cerveira e mesmo com a agulha a avançar torta, chegaram a Alijó.

É fundamentalmente diferente porque percebe que os lavores, mais do que “saber fazer” são atos criativos. De grande valor patrimonial e que não são isentos de leitura sociológica e política.

E aqui reside talvez o cerne da afirmação da sua diferença. É que mesmo na escolha do nome, a associação assume com coragem um nome controverso: “Lavorada”.

Os lavores foram durante muito tempo uma ferramenta de subjugação da mulher. Eram os grilhões que a prendiam à casa e à lide doméstica. Assumir o nome Lavorada, ou jornada de lavores, é aceitar o passado, transmutado em património.

E existe arte nos Lavores.

Arte essa, que a Lavorada se compromete – não sou eu que o digo são os estatutos da Associação – a preservar para que não desapareçam, a estudar para melhor entender, a promover para que não caia no esquecimento.

E também a criar, porque o património não tem de ser uma coisa estática, nem viver apenas do passado, ou repousar em museus.

Em caso de dúvida sobre este assunto, é perguntar à Tory Burch que ela explica.

A Associação Lavorada é diferente porque assume que nem só de Lavores vive a mulher.

Hoje é a apresentação e amanhã já há cartaz e coisas marcadas. Não quero estar aqui a dizer que é preciso despachar isto, mas às 10:00 da manhã temos workshops, depois vêm as mulheres de Rates do Linho, entretanto anda por aí a criançada e o picnic às 13:00.

À tarde continua, mas pela aragem já vemos como vai ser a carruagem. Entre rendas e tricot há encontros, há passeios, fazem-se conversas e tertúlias. Está nos estatutos que busca ser um fator de coesão social, de convívio e de promoção da sanidade mental através de actividades em grupo, de fuga do dia-a-dia, do habitual e do corriqueiro.

A Associação Lavorada também é diferente, porque parece que não quer deixar ninguém de fora. É uma associação que não é só para alguns, é para todos minhas senhoras e meus senhores.

Está aberta a todos desde o início. Remete a sua orgânica funcional para as rodas ancestrais de partilha de conhecimentos e de sentimentos. Assume o trabalho em grupo como terapia, como alienação do dia a dia e como motor de exploração em novas e importantes áreas como a educação, a sustentabilidade, a saúde, o feminismo, a igualdade de género e o voluntariado.

Resta-me dizer, já não como amigo, ou enquanto seguidor das vossas redes sociais e futuro proponente a associado, que o mundo não é só feito de grandes obras, nem as sociedades se apoiam apenas em grandes declarações de direitos e valores. Há toda uma cola que nos liga, uma infraestrutura invisível, cada vez mais esboroada e abandonada.

Em inglês diz-se “lore”, e em Portugal diz-se tradição, que não é bem a mesma coisa.

Mas são o conjunto das nossas idiossincrasias, usos e costumes ancestrais.

São estas características que nos ligam, nos identificam como povo e constituem a nossa identidade.

Enquanto Presidente de Junta deixem-me declarar a minha admiração pelo trabalho feito, e reiterar a importância de existir uma associação cultural como a Lavorada, para o futuro de uma terra como a Póvoa de Varzim.

 

 

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16 de Junho, 2024

Parabéns, meninas Lavoradas!!!!
Bem merecido o reconhecimento público.
Continuem a divulgar, a ajudar e partilhar os saberes.

Bem hajam pelo bem que fazem!!!
Beijinhos

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