A 15 de agosto de cada ano, a Rua 31 de Janeiro é a nave central de uma igreja com altar no mar, esse lugar de dádiva e sacrifício, de vida e de morte. Festa de pescadores, que têm nos braços abertos da Senhora da Assunção a expressão da sua própria súplica, pedem misericórdia e abundância, pedem proteção e salvação.
O embelezamento e criação de espaços sacros como expressão de fé através da arte tem raízes profundas na história da humanidade. O indizível de nós encontra nos rituais de preparação, de cuidado e criação uma razão de existência. Tornam-nos dignos de sermos tomados pelo divino.
Senhor, eu não sou digno que entreis em minha morada, mas dizei uma palavra e eu serei salvo*
Preparação e cuidado. Entrega e salvação.
*Liturgia Eucarística, Missal Romano.
Com esta exposição, pretende-se realçar o uso das colchas como elemento de embelezamento do espaço sacro efémero que são as ruas que acolhem estes atos de fé, mas partimos daqui para ir além do visível.
Pretende-se criar pensamento sobre o que está para além do concreto. Perscrutar as rendas brancas que purificam as paredes do espaço terreno, levando-nos para o lugar abstrato em que elas são feitas, sendo ele próprio lugar de redenção.
Quem as fez? Que tempo, que tempos?
Que mãos? De que lugar emerge a cadência mecânica que cria? Que pensamentos?
Sem impaciência.
Sem curiosidade,
Sem atenção
Vejo o crochet que com ambas as mãos combinadas
Fazes.
(...)
Qual é a razão que te dá entretenimento
Às mãos e à alma essa coisa rala
Por onde se pode meter um fósforo apagado?
(...)
Crochet, almas, filosofia...
Todas as religiões do mundo...
Tudo quanto nos entretém ao serão de sermos…
Sem Impaciência, Álvaro de Campos.
Fotografias e design:
Carlos Gonçalves
Curadoria:
Lara Mafalda Ferreira
Organização:
Lavorada, Associação dos Lavores