Há dois lados noticiosos que podemos percorrer. Um mau, um bom. Um põe-nos na linha da morte, na ameaça nuclear que levará à extinção da humanidade. Não é um exagero, pode dar-se o caso. E isto é tão gigante que nada podemos fazer. Estamos nas mãos de meia dúzia de homens de fato, na meia dúzia de acéfalos emocionais e sociais, que vivem na cegueira do poder, da invencibilidade. Os povos dão-se naturalmente bem, os seus líderes são sempre a origem dos conflitos. 

E é daqui, do catastrofismo, que partimos para o outro lado, mais claro, que também nos é dado a percorrer, mas que vive na sombra do medo criado, mais uma vez, por quem tem o mundo na mão.

Há dias, conheci o projeto Reasons To Be Cheerful, um projeto de David Byrne e que, tal como o nome indica, vai trazendo a lume razões para vivermos o quotidiano com otimismo, “um tónico para tempos tumultuosos”. Uma revista online que nos conta histórias, “em número supreendente”, com soluções concretas para os problemas mais urgentes do mundo.

"Many of these reasons [to be cheerful] come in the form of smart, proven, replicable solutions to the world’s most pressing problems. Through sharp reporting, our stories balance a sense of healthy optimism with journalistic rigor, and find cause for hope. We are part magazine, part therapy session, part blueprint for a better world."

É, portanto, um espaço noticioso mais interessante e útil que os canais noticiosos twenty four seven.

E o que tudo isto tem a ver com o Lavorada?

O nosso projeto são os lavores, a preservação do conhecimento a ele ligados e todas as matérias onde isto vai tocar e, acima de tudo, a todas as pessoas onde isto vai tocar. Não é, portanto, leviano o nosso projeto. Não se reveste de frivolidade cada encontro de tricotadeiras e afins. Revê-se, antes, no mesmo estímulo que leva tanta gente a criar projetos de otimismo, como o Reasons To Be Cheerful.

Se o mal tem um poder disseminador, também o tem o bem, que o digamos nós que somos testemunhas de como uma roda de tricot reverbera para além daquele espaço, daquele tempo ali passado.

Já o disse e repetirei vezes sem conta que saber-fazer, criar algo novo, conhecer o processo criador eleva a nossa auto-estima, aumenta a nossa atenção e reflexão diante das coisas, do tempo. Aumenta o respeito pelas matérias-primas e pela natureza. Partilhar esse conhecimento cria relações sociais, afinal, o mais importante dos nossos dias: a alteridade.

Um otimista tende a ser desacreditado, infantilizado ou chamado de louco. Mas não serão os mais corajosos? Os que não se acomodam à desculpa da impotência, dos fins anunciados? Não é preciso coragem para escrever estas palavras de compromisso?

Levantar este projeto e concretizar as ideias que habitam a minha cabeça – as nossas cabeças! já somos muitas! – requer coragem, inconformismo e a desinstalação do conforto certo de uma agenda calma e individual. 

Não sabemos como será o futuro, mas sabemos que no presente podemos, com agulhas e fio na mão, contribuir para um mundo melhor e aumentar as reasons to be cheerful.

Esta é uma introdução muito grande para o convite que este artigo deveria ser, mas é um mal (ou bem) que me assiste: falar muito, pensar ainda mais. Mas é, efetivamente, com um convite que termino:

Venham ao Lavorada, ao Festival dos Lavores e façam festa connosco. Festa em tempos em que ela é muito precisa. Festa é alegria e a alegria é a mais brilhante das manifestações humanas.

Aproveito e embalo (lá está..) e faço deste artigo também um agradecimento. Agradeço a todas e todos que se juntam a mim, ao projeto Lavorada e me fazem falar na primeira pessoa, mas do plural : Nós!

Este Nós trará novidades num futuro próximo, mas de imediato podemos anunciar que a partir de setembro, o Lavorada tem encontro marcado todas os segundos sábados de cada mês para uma roda de cheerfulness.

 

Lara Mafalda

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